
Não seria de se irar se muitas pessoas sequer abriram este texto e perderam o interesse de lê-lo justamente por causa da palavra “política” no título. Para muitos cidadãos, trata-se de um “assunto chato” e de pouca relevância, como se costuma ouvir em qualquer lugar.
Mas há uma frase de mais de dois mil anos que se encaixa nos tempos atuais, uma frase atribuída ao pensador grego Platão: “Quem não gosta de política será governado por quem gosta”.
❒ Leia também de Silvan Cardoso: Religião se discute sim!
Há até pessoas bem próximas que dizem não gostar e não perder tempo com isso. Mas não gostar de política também faz as pessoas perderem tempo como também seus direitos, oportunidades e muitas outras conquistas.
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Se alguém quiser combater políticos – e também eleitores – corruptos, se quiser conquistas que beneficiem os cidadãos e se quiser uma cidade, um estado e um país bom para se viver, nada melhor que discutir política. Até porque, diferente do que se costuma dizer por aí, política não deve ser levada em conta somente em anos eleitorais.
“Quem não gosta de política será governado por quem gosta”
Mas existe também um detalhe que precisa ser levado em questão: política não é só assunto partidário. Não é só falar de vereador, prefeito, governador ou presidente. Vai muito além. Podemos dizer que política é uma palavra genérica, que abrange a participação cidadã e também as organizações sociais.
Há os grupos de interesse que são fundamentais, como sindicatos, associações de moradores e organizações não governamentais (ONGs). Grupos que são fundamentais para complementar o cenário político. Um simples sopão realizado para pessoas sem condições financeiras, doações de roupas, doações de cestas básicas a quem precisa ou um projeto de incentivo a leitura também são políticas, as politicas sociais, que não precisam necessariamente estar vinculados a políticos partidários.
Claro que não se pode deixar de lado a política partidária, porque a participação popular não deve se limitar apenas quando for votar na urna eletrônica. As pessoas precisam estar atentas às sessões nos legislativos municipais e estaduais e no que ocorrer na Câmara dos Deputados e no Senado, assim como nos poderes executivos.
Porém, continuará sendo um assunto chato para muitas pessoas, pois para elas se trata de algo que não as afeta diretamente no dia a dia. É ai que está o problema, pois afeta sim!
Logo de manhã cedo, ao comprar café, pão e ovo, e se o preço estiver maior que do dia anterior, haverá reclamação por parte do consumidor. Outro exemplo é se a pessoa precisa ir trabalhar, mas a rua que faz parte da sua rota está interditada por causa de buracos ou a agem do ônibus está um “absurdo de caro”. Isso são consequências vinculadas aos políticos que as pessoas colocaram no poder e depois ignoram.
A pressão popular também faz diferença no cenário político brasileiro
É necessário haver cobranças dos eleitores para os que estão num cargo público. É fundamental saber em quem votar, analisando cada candidato. Tudo isso é necessário quando for colocar alguém numa cadeira para representar a população. A pressão popular também faz diferença no cenário político brasileiro. Entretanto, sem organização, sem cobrança e sem pressão, os governantes fazem o que querem, beneficiando-se sobre os trabalhadores, especialmente os mais pobres.
Outra questão nisso é que as pessoas não se informam. E quando procuram alguma informação, vão através de fontes sem devida credibilidade. Está se tornando muito comum as pessoas arem aplicativos como TikTok ou Kwai para buscarem notícias, onde normalmente encontram vídeos com informações distorcidas e longe da veracidade.
É muito preocupante saber que as pessoas não têm interesse pelo assunto, um assunto que exige leitura de sites sérios, telejornais, jornais impressos e revistas. Mais preocupantes ainda são as pessoas que se deixam manipular por políticos, seja de esquerda, de direita ou de centro, escolhendo um dos lados e tornando-se ignorantes.
A partir daí, cria-se um fanatismo por seu “político de estimação”.
Muitos desses fanáticos am a negar tudo o que é de interesse público, com um negacionismo que se torna mais “venenoso” às essas pessoas, que am a trocar resultados de estudos científicos comprovados pelo “achismo”.
Apesar disso, uma pesquisa do DataSenado, que entrevistou cerca de 20 mil pessoas, apontou que em 2024 a população brasileira não estava polarizada, conforme a avaliação do coordenador José Henriques de Oliveira Varanda. De acordo com a pesquisa, 11% afirmou serem do centro, 15% de esquerda, 29% de direita, 40% não escolheu nenhumas das ideologias e 5% não soube ou não respondeu.
“O problema não é nem tanto discutir a política, mas saber discuti-la”
Mesmo assim, há muito barulho nas redes sociais. Há muito atrito, muitas acusações sem prova e toda tentativa de manipular pessoas para o seu lado. Além do mais, os políticos se aproveitam de pessoas analfabetas, atingindo o ponto fraco de cada uma delas para conquistá-las.
Quantas pessoas se iludem por vídeos comoventes de políticos que “falam bonito” nas redes sociais? Quantas promessas são feitas, sempre acompanhadas de acusações ácidas à oposição, deixando muitas pessoas confusas? Em meio a essa confusão, há a falta de interesse da população em pesquisar os rivais políticos, para saber quem realmente está certo.
Com isso, podemos dizer que o problema não é nem tanto discutir a política, mas saber discutir. As redes sociais fizeram com que muitas pessoas maliciosas pudessem ter espaço para se expressarem publicamente com acusações e ataques que deseducam. Muitas de suas afirmações são parciais e distantes de serem didáticas, com o objetivo de causar discórdia.
Numa conversa onde há fanatismo por pelo menos um dos lados, é improvável nunca ter briga. Brigas que nunca chegam a uma solução. Apenas aumenta a inimizade entre as oposições.
A discussão política deveria ser ser um diálogo onde quem quer falar também deve ouvir. É inviável um debate onde duas pessoas perdem o controle emocional porque um falou mal do seu político. Percebe-se que esse descontrole e a falta de maturidade nos debates beneficiam apenas aqueles que estão no poder.
A discussão política também deveria ser feita de união, de um grupo de pessoas que, além de debater, colocam em prática ou fazem devidas cobranças do que anseiam de seus políticos. Quando o povo sabe discutir política, isso certamente preocupa qualquer governante, que não conseguirá manipular os eleitores que pensam e agem por conta própria.
“A política ainda é um assunto bastante evitado”
O Brasil precisa de cidadãos assim, que não se deixa levar por qualquer promessa e ilusão. Dessa forma, o político perceberá que não apenas ele gosta de política, como o povo também.
Contudo, por enquanto a realidade não é essa. Muita gente ainda tem o que aprender sobre o assunto. Muitos eleitores vendem seus votos, votam porque fulano indicou ou não porque conhecem os candidatos. A política ainda é um assunto bastante evitado e apenas uma parcela da sociedade leva a sério. Muitos desses que levam a sério se candidatam porque entendem que podem se beneficiar das pessoas que são analfabetos funcionais.
A carreira política é também uma busca pelo benefício próprio. As pessoas têm o ao dinheiro público e muitas enriquecem com isso. Ser político se torna uma oportunidade de ter uma vida financeira boa, fazendo com que as ações pelo bem social percam a prioridade. O dinheiro a a falar mais alto.
Será sempre assim se as pessoas acharem que política não se discute. Nada mudará e será até pior para muita gente. Tudo continuará na mesma, enfrentando mais e mais dificuldades, as brigas persistirão nas redes sociais e os políticos continuarão manipulando as pessoas para seu próprio bem estar.


❒ Silvan Cardoso é poeta, cronista e pedagogo nascido em Alenquer, no Pará. Escreve regularmente no JC. Leia também dele: Alenquer, 143 anos: quem come seu acari não quer mais sair daqui. E ainda: Canhoto, o dono do lanche que virou point em Alenquer; vídeo.
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