
O barquinho estava no meio do rio, e a tempestade já tinha afastado o cenário que costuma ser a imagem do paraíso na terra. Agora se na terra tem essas filiais, seria essa facilmente do inferno. Ele gostaria de estar em uma história contemplativa de lendas e bonitos cenários na Amazônia, mas fato é que estava mesmo era encrencado em meio aos ventos devastadores do rio.
O barco encarando a revolta de uma natureza que surpreende quem busca qualquer das histórias no navegar desses leitos. Era o jeito, continuava uma navegação perturbadora, água de todos os lados, entrando naquele amontoadinho de madeira, vibrando ainda mais a vela, o motor que corajosamente insistia em maquinar avante, cortando céu escuro e caído em água, que encontrava a água do Amazonas, em ondas enormes, turvas e avassaladoras.
∎ Leia também de Jorge Guto: Retirante, Santa Catarina.
∎ E ainda: Uma mentirinha mocoronga, por favor.
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Quem poderia imaginar que um naufrágio poderia ter um tanto de filmes, onde a bonança é o tranquilo chegar em uma ilha, pronto! final feliz. Certamente não navegou sobre os rios-mares do grande tapete aquático que corta cidades e florestas.
Apesar de ter feito todas as promessas que só depois do perigo se via que não seriam cumpridas, mal poderia acreditar que estava sobrevivendo aos fenômenos de uma travessia, tão repentinamente e pouco sabida se teria mesmo essa história para contar.
Fazenda Santa Maria via Amazonas à cidade pérola, uma viagem acompanhado de medo e boa intimidade com Deus, que a todo custo ia sendo clamado em voz interior, que o fizesse chegar com vida até o atraque da embarcação.
O marasmo desse contexto, previsível nessa imagem, foi a tempestade que achou, tal condição natural de tamanha tranquilidade que, era como pensasse por bem intervir, em forma de tudo que se encontra em uma tormenta, com direito a pegar de surpresa qualquer dos navegantes.
Pois bem que todos se salvaram, e assim como se nada tivesse acontecido, ficou em dúvida onde era a proa. Pediu ao filho, sempre irado, que pegasse os carotes. Agora sim, pior que a travessia era não vender o leite. Pior que a mais perigosa tempestade.

➽➽ Jorge Augusto Morais, o Jorge Guto, é santareno, formado em direito e aprendiz da crônica reflexiva, em prosa, influenciado por uma tia, professora de literatura brasileira. Desde criança lê contos e escreve sobre dramas humanos universais, tendo como cenário uma Amazônia que pode estar na informalidade e no inusitado.
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