O tempo de Deus. Por Alessandra Helena Corrêa

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O tempo de Deus. Por Alessandra Helena Corrêa

Se eu acredito em Deus? Mas que valor poderia ter minha resposta, afirmativa ou não? O que importa é saber se Deus acredita em mim. (Mário Quintana)


Sim, essa crônica parte do princípio de que existe um deus. Talvez não seja o mesmo no qual você acredita. Talvez demos a ele um nome diferente.

— LEIA também de Alessandra Corrêa: A vida em desequilíbrio.

Deus, segundo o dicionário, seria um termo derivado do indo-europeu “Diêus” que significa “brilhar”. Na maior parte das tradições religiosas esse seria um ser supremo que tudo criou, onipotente, onipresente e onisciente.

Muitos ainda acreditam que a própria natureza seria a manifestação e prova concreta da sua existência. Esse Deus – e agora que você já deve ter identificado o seu, o a citá-lo com letra maiúscula – se manifesta em nós e nas nossas vidas de várias formas.

Através de uma religião; de uma cultura; de um ritual; através da música. De um beijo; de um abraço; de um gesto; se manifesta ainda através de um filho que nasce; de uma planta que cresce; um alimento que sacia.

Deus é o espanto no sopro da vida. É a onomatopeia da reconciliação. É a paz na chegada, daquilo que se espera.

Deus é o paradoxo perfeito: realidade irreal; incerteza convicta; amor sem abraço; presença sentida.

É a embriaguez sem álcool; sustento sem apoio; ativismo da fé. Deus é o silêncio do grito dos homens que nele buscam sentido. Mas foi pensando nessa figura quase mítica que conectei meus devaneios com uma dúvida que em mim pairava: como esse Deus se manifesta na existência que muitas vezes não se explica?!

Lembrei então do chamado “Tempo de Deus”. Seria Deus o cronômetro da humanidade? Aquele que acerta os ponteiros das nossas ações?

Dito dessa forma até soa autoritário. Fui além…

Pensei na perfeição do dia. No sincronismo do pôr do sol e o surgir da Lua. Das estações que reversam ao longo do ano. Da chuva que surge para o descanso das árvores.

Pensei então que o tempo de Deus é como a certeza de um maestro na regência da orquestra.

A música que só termina quando todas as notas se cruzam.

O cultivo das sementes que ainda faltam plantar.
O tempo de Deus é o abraço nos reencontros.
O perfume no jardim que floresce;
O sol no domingo de praia.
O final feliz do último capítulo.

O tempo de Deus É o gosto da comida de mãe.
O natal no fim de ano;
Aqueles 10s do último mês.

O tempo de Deus É o “aprovado” que se grita.
O beijo de quem se ama;
Os 5min a mais no despertador.

No tempo de Deus injustiças não se
afloram; Maldades não se criam.
A dor não se propaga e A morte não se culpa.
No tempo de Deus fazer o bem vira rotina;
O amor é luta de classe.
O perdão é tudo que fica.

Porque o tempo de Deus não é entidade suprema;
Uma mágica do Aladdin,
Enredo de novela.
Afinal, o tempo de Deus não é sobre Nele acreditar, mas se Ele em mim acredita.

<strong>Alessandra Helena Corrêa</strong>
Alessandra Helena Corrêa

Santarena, é graduada em licenciatura plena em Letras (Ufopa). Faz mestrado atualmente em Estudos Literários, Culturais e Interartes na Universidade do Porto, Portugal, onde reside. No Instagram: @alehhelena


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