por Anselmo Colares (*)
Mais uma vez tive a oportunidade de viver esta data, mas neste ano de 2010 ela teve um novo significado. Na verdade, ainda não sei bem dizer qual seja ele, mas sei que é uma sensação bem diferente da que tenho experimentado desde que me tornei pai de Lucas, e com ele convivi por 13 anos.
Uma coisa era festejar discretamente, ou como em uma ocasião em que estivemos geograficamente afastados. Agora, a separação é de outra natureza: aliás, é da natureza mesma de todos os seres vivos. Mas descobri que quando ocorre conosco se torna tão intrigante como se fóssemos isentos de tal circunstância.
Não aprendi a lidar com uma ausência que vai além das distâncias geográficas, e da minha compreensão do que seja a vida no plano espiritual. Sim, esta é parte mais difícil. Talvez seja resolvida apenas para os que não aceitam a idéia de que há algo além da matéria que vemos e tocamos. Para estes, a morte é o fim da vida, e pronto.
Não foi esta minha formação. Mas também não me ensinaram quase nada sobre esta que é a única certeza da vida. Aliás, somente agora me dei conta de quanto este tema é negligenciado. O quanto fugimos dele como se assim ficássemos livres de enfrentá-lo. Felizmente há exceções, e são elas que nos fornecem algum amparo quando nos vemos diante desta inexorável realidade.
Pessoas com maior grau de espiritualidade, de diferentes religiões, se mostram mais preparadas para nos falar da vida que prossegue, quando nos vemos atormentados pela dor da ausência física. Dia após dia, a saudade é a marca, embora mude de forma, conforme se amplia nossa compreensão quanto a imortalidade da alma.
Para um pai que sempre se preocupou com os mínimos detalhes da vida do filho, que acordava muitas vezes à noite para conferir se tudo estava bem, que até exagerava no cuidar querendo evitar que o filho sofresse, é inável a sensação de não mais poder proteger.
Um pai que sempre se fez presente, e que sempre quis o filho presente em sua vida, agora se vê perdido, solitário. Mesmo que itindo a continuidade da vida no plano espiritual, não aprendemos a lidar com as coisas que estejam além dos nossos sentidos físicos. Mesmo quanto aos sentimentos mais intensos, que acreditamos estejam além do tempo e do espaço, pairam dúvidas, especialmente se eles estão sendo adequadamente expressados.
Como continuar manifestando o carinho, o amor, a ternura? Como lembrar sem que a dor ocupe os espaços que deveriam ser preenchidos pela memória das boas coisas compartilhadas? Como agir nos locais e nas ocasiões que nos remetem para os planos interrompidos, tais como aqueles momentos em que os amigos nos falam de boas realizações de seus filhos? Como “enfrentar” as datas festivas como, por exemplo, o Dia dos Pais? Tão difícil quanto lidar com a temática da morte, é lidar com a temática da continuidade da vida no plano espiritual.
“Feliz Dia dos Pais”, quantas vezes já disse, quantas vezes já ouvi! Mas agora é novamente uma primeira vez. Tenho a convicção de que não deixei de ser pai. Continuo tendo um filho amado, embora não esteja mais vivendo em nosso meio. Mas como lidar com estas convicções? Como ajustar (se é que isso seja importante) essa nova realidade com os antigos hábitos? Sei que ainda é muito cedo para estruturar tamanha mudança, mas sei também que ela precisa ser iniciada.
Por enquanto, as certezas que tenho como pai é que amei a meu filho com intensidade, dediquei a ele o melhor de minhas energias. Conforta-me o coração saber que ele não se corrompeu com as vaidades e maldades humanas, que valorizava e irava minhas qualidades humanas, assim como sabia e até me cobrava quanto a meus defeitos. Porém, o mais importante de tudo foi ter ouvido, não raras vezes, que eu era o melhor pai do mundo.
O mais difícil para um pai como eu, nesse dia, é não saber concretamente o que fazer para continuar sendo o melhor pai, agora de um mundo invisível aos nossos olhos, mas completamente issível no coração e na mente de quem ama e tem fé em Deus.
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* Santareno, é professor-doutor em Educação. E pai de Lucas, que faleceu há poucas semanas. Mora e trabalha em Rondônia.
Professor Anselmo
O seu filho está bem. E bem melhor que nós aqui na Divina missão de continuarmos a nossa peleja em melhorar. Então não quero lamentar e sim dizer vamos em frente navegar nesse belo viver de momentos difíceis e bons de superação.
Durante muitos anos fui influenciada fortemente por três intelectuais que até hoje iro um tanto: Nietzsche, Marx e Freud. E nos livros desses intelectuais Deus e Vida Espiritual não ocupam lugar de destaque. E eu não valorizava a espiritualidade. Até que em 2002 uma pessoa querida do meu convíviu desencarnou e eu me revoltei contra Meu Pai Criador. Sim daí ei a me interessar por Deus, a questioná-lo e quiz conhecê-lo. Blasfemei bastante, mas decidi pela primeira vez caminhar numa religião para compreender quem me criou e é o Senhor da Vida. Um período de descobertas surpreendentes. Surpreendentes porque me prendi tanto às coisas materiais aqui da nossa Mãe Terra que esqueci das elevações espirituais que temos e podemos desenvolver.
Daí em 2006 foi detectado um tumor no meu cérebro e a cirurgia para a sua retirada envolvia riscos e possibilidades de não voltar a viver por aqui. Nesse momento sentí Deus intensamente. Foi na minha dor, nos meus medos, nas depressões terríveis e assustadoras que tive a certeza do imenso Amor desse JESUS, Senhor da Sabedoria que me ensina o que as pessoas espiritualizadas já sabem: que o sofrimento e a dor são fontes de sabedoria, elevação espiritual e felicidade.
Ainda não é fácil para mim compreender isso de maneira clara, mas aceito o que a Vida me reservou e o que virá. O bom da vida é navegar e aprender a se equilibrar no Mar calmo, nas ondas e tempestades. Sempre aprendendo. Sei que o melhor da vida é ser aprendiz. Então vamos viver aqui, continuar a jornada aqui nesse chão, mas sem esquecer de olhar as estrelas no Céu.
Professor Anselmo, sei que como um bom Marujo do Mar e lutador que o Senhor é a vida segue em frente com a mesma força de outros desafios já superados. Nós santarenos precisamos dos seus conhecimentos e da simpatia de um casal que o senhor e sua esposa representam. Que venham mais filhos e a boa semente não cesse de brotar. FELICIDADES!!!
Soube do acontecido pela Profa. Raimunda Costa, lamento por vc e pela sua esposa Liliam, é uma pena Prof. Anselmo que quantos pais que tem a oportunidade ser, não uma única vez, mas duas, três, quatro vezes pai e ignoram seus filhos com a maior naturalidade do mundo. Enquanto outros lamentam a perda precoce de apenas um único filho. Digo isso por experiência própria. Daqui mando meu fraterno abraço aos queridos mestres. Realmente a dor da perda só sabe quem sente. Mas pela árdua profissão adotada pelo casal, terão ainda muitos filhos para rear os sábios conhecimentos adquiridos ao longo de toda a vida docente. Muita força e fé no Supremo. Seu filho viajou orgulhoso do pai e esse pai continuará sendo seu orgulho em outras vidas.
A Vida É Frágil
A vida é frágil
e viver é um lindo
momento,quando se sabe amar
Voltar à poesia
perdida no tempo,rebuscar
no eterno acreditar
será que o sonho acabou?
Será que o somos se foi?
Sei que a tempestade
dará seu lugar a um dia de sol
Tenho certeza que vou te encontrar
Não sei o dia e a hora,
mas sei o lugar
Sei que você está bem
Mesmo assim isso não me impede de chorar
Os nossos momentos, as nossas idéias
presentes em todas as canções
O que nós sentimos, os nossos desejos
seguirão em nossos corações
Você foi tão cedo à vida
é um mistério ela não diz por quê
Mas tua semente hoje está presente
e vai florecer
Tenho certeza que vou te encontrar
Não sei o dia e a hora,
mas sei o lugar
Sei que você está bem
Mesmo assim isso não me impede de chorar
Banda Catedral
Caro amigo Anselmo e esposa.
Parabéns pelo texto corajoso que demonstrou, sem pieguice, um amor verdadeiro pelo seu rebento que com vocês conviveu apenas 13 anos. Mesmo imaginando estar em seu lugar, muito me falta para mensurar o quanto essa ausência os incomoda e incomodará por toda as suas vidas. Rogo a Deus, em sua infinita bondade, que lhes dêem força para ar tão grande pêrda. Pelo que os conheço, sei perfeitamente que você terá força suficiente para conviver com essa situação e ajudar a esposa, na retomada do norte por vocês definido. Meu amigo o tempo não pára… e você é sabedor disso. Contate-me, quando possível. Fraternal abraço.
Neivaldo José Ferreira Alves – Santarém-PA.