Documentário “Trilhos do progresso?” expõe impactos da Ferrogrão, e dá voz a indígenas

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Documentário “Trilhos do progresso?” expõe impactos da Ferrogrão, e dá voz a povos indígenas
Aldeia Kubenkokre, na TI Menkragnoti. Fotos: Kokomy Kayapó/Instituto Kabu

Já se encontra em fase de finalização o documentário Trilhos do progresso? O impacto socioambiental da Ferrovia Ferrogrão (EF-170), que teve as regiões sudoeste e oeste do Pará como palco das gravações..

Contemplado pelo Edital Curta Afirmativo, da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, o filme é dirigido pelo cineasta indígena Clodoaldo Corrêa Arapiun, roteirizado por ele em parceria com Lia Malcher. O objetivo é jogar luz sobre os impactos socioambientais provocados pela construção da Ferrogrão, uma das obras mais polêmicas previstas para a Amazônia.

Muito mais do que uma análise técnica da ferrovia, o documentário mergulha no cotidiano e na resistência dos povos indígenas afetados diretamente pelo projeto. As aldeias Munduruku, Kayapó e Apiaká, Praia do Mangue e outras têm papel central na narrativa.

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Além das falas dos povos originários, o filme conta também com entrevistas de representantes do Ministério Público Federal, de técnicos do ICMBio e com materiais de arquivo de autoridades políticas que participaram do projeto da ferrovia desde sua concepção, em 2016.

Riscos ao ecossistema e povos indígenas

A Ferrogrão prevê um traçado de 1.142 km. Seus trilhos ligam Sinop (MT) a Miritituba (PA), com orçamento estimado em R$ 12,6 bilhões. O objetivo é facilitar o transporte da produção agrícola, especialmente soja, até o porto para exportação. No entanto, o percurso atravessa o Parque Nacional do Jamanxim, uma das áreas mais sensíveis da floresta amazônica, colocando em risco não só o ecossistema, mas também a vida de comunidades tradicionais e povos indígenas que habitam a região.

Segundo dados do ICMBio, a construção da BR-163 (Santarém-Cuiabá), com função semelhante à da Ferrogrão, gerou um aumento de 500% no desmatamento em seu entorno. O receio é que a nova ferrovia repita esse padrão de devastação.

O cineasta Clodoaldo Arapiun gravando cenas para o documentário. Foto: Frank Munduruku

A proposta do documentário é apresentar uma visão crítica e urgente sobre o modelo de desenvolvimento defendido por grandes grupos econômicos, que muitas vezes ignoram os impactos sociais e ambientais. O filme quer mostrar que os povos indígenas não são obstáculos ao progresso, mas sim protagonistas na preservação da floresta e na manutenção do equilíbrio ecológico.

Lançamento: maio deste ano

Com previsão de lançamento para maio de 2025, Trilhos do progresso? é também um chamado à reflexão: que tipo de futuro estamos construindo e quem está pagando o preço por esse avanço? A produção pretende alcançar não apenas o público brasileiro, mas também o cenário internacional, como forma de pressionar por um debate mais justo e transparente sobre a Amazônia e seus guardiões.

Clodoaldo Arapiun nasceu na Aldeia Anderá, Baixo Tapajós, onde viveu sua infância e boa parte de sua juventude cercado pela cultura indígena, pela qual trabalha há mais de 25 anos. Além de Trilhos do Progresso? Clodoaldo assina outras produções voltadas para as lutas dos povos originários.

Indígenas da aldeia Kubenkokre em ritual dentro da TI

Com informações e fotos da produção documentário/Márcia Reis, assessora de imprensa

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